Resum:. O presente artigo apresenta uma discussão teórica em torno do conceito de modelo pedagógico para EAD e dos elementos que o compõem. Abordando elementos epistemológicos, propõe-se uma revisão do conceito de arquitectura pedagógica ampliando para o construto de modelo pedagógico. Esta discussão teórica constitui-se a base para a construção de um objecto de aprendizagem denominado ARQUEAD. Este visa ser um instrumento norteador na formação de professores para actuarem na modalidade à distância. Finalmente, apresenta-se o objecto de aprendizagem ARQUEAD desenvolvido pelo Núcleo de Tecnologia Digital aplicada à Educação (NUTED/UFRGS).
Dra.Patricia Alejandra Behar - NUTED/UFRGS -pbehar@terra.com.br
Dra.Liliana Passerino - CINTED/UFRGS- liliana@cinted.ufrgs.br
Msc.Maira Bernardi - NUTED/UFRGS - mairaber@terra.com.br
Dra.Patricia Alejandra Behar - NUTED/UFRGS -pbehar@terra.com.br
Dra.Liliana Passerino - CINTED/UFRGS- liliana@cinted.ufrgs.br
Msc.Maira Bernardi - NUTED/UFRGS - mairaber@terra.com.br
Palavras-chave: modelo pedagógico, educação a distância, objecto de aprendizagem
1. Introdução
Na última década, as Universidades Brasileiras estão passando por um processo de mudança muito significativo, no que se refere à introdução da educação a distância (EAD) no processo educacional. Pode-se dizer que está se vivendo um momento de transformação, onde os paradigmas presentes na sociedade já não estão dando mais conta das relações, necessidades e desafios sociais, e um novo modelo educativo está emergindo num processo ainda de construção. Está se rompendo com a idéia de uma sociedade centrada no trabalho para uma sociedade que dá valor à educação, dentro de uma nova totalidade, denominada em muitos contextos da Sociedade da Informação, ou ainda, em Rede. Portanto, se faz necessário investigar como está ocorrendo a passagem de uma Sociedade Industrial, que privilegia a cultura do ensino, para uma Sociedade em Rede, que dá ênfase a cultura da aprendizagem. Investigar quais são os elementos que se transformaram e continuam se transformando durante este período e quais entram em cena, ainda desconhecidos.
O modelo educativo vigente na sociedade Industrial privilegia o ensino tecnicista, tendo como função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis, de acordo com suas aptidões. Neste modelo, toda prática pedagógica vivenciada não
apresenta nenhuma relação com o cotidiano do aluno, pouco desperta a curiosidade, privilegiando o acúmulo de conhecimentos, valores e normas vigentes na sociedade de classe repassados de forma conteudista e desarticulada. Como resultado decorrente, o aluno passa a tornar-se desinteressado por não perceber o sentido daquilo que está sendo ensinado.
Na sociedade em Rede, aprender caracteriza-se por uma apropriação de conhecimento que se dá numa realidade concreta, isto é, parte da situação real vivida pelo educando apoiado na presença mediadora e gestora do professor compromissado com seus alunos e com a construção de conhecimentos, procurando responder ao princípio da aprendizagem significativa (Castells, 1999). Uma aprendizagem significativa pressupõe o oferecimento ao educando de informações relevantes, que possam ser relacionadas com os conceitos já ou pré-existentes em sua estrutura cognitiva e que acabam por influenciar na aprendizagem e no significado atribuído aos novos conceitos aprendidos.
Nesta perspectiva, o conhecimento é concebido como resultado da acção do sujeito sobre a realidade, estando o aluno na posição de protagonista no processo da aprendizagem construída de forma cooperativa numa relação comunicativa renovada e reflexiva com os demais sujeitos. Neste paradigma, a prática pedagógica considera o processo e as ações mais significativas que o produto deles resultantes.
Evidentemente que não é só por causa da introdução da Educação a Distância (EAD) que está ocorrendo uma crise paradigmática na educação, mas com ela fica mais evidente e clara a necessidade de realizar mudanças significativas nas práticas educacionais e, consequentemente, no modelo pedagógico. Portanto, pode-se dizer que um novo espaço pedagógico está em fase de gestação, cujas características são: o desenvolvimento das competências e habilidades, respeito ao ritmo individual, a formação de comunidades de aprendizagem, redes de convivência (Behar, 2005).
Será preciso dar foco à construção, à capacitação, à aprendizagem, a educação aberta e à distância, na gestão do conhecimento. Assim, conceitos como construção do conhecimento, autonomia, autoria, interação, construção de um espaço heterárquico, de cooperação, respeito mútuo, solidariedade; centrado na actividade do aprendiz, identificação e solução de problemas passam a ser os alicerces deste novo modelo que está emergindo.
É neste contexto que a EAD entra em cena para auxiliar a resolver os problemas da educação superior brasileira. Com o uso de ferramentas tecnológicas para a geração do ensino remoto, governo, entidades públicas e privadas esperam romper o gigantesco déficit educacional e encontrar o caminho da inclusão digital na Sociedade da Informação.
Logo, vê-se que esta modalidade tem instrumentos capazes de transformar a educação brasileira, com o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Acredita-se que, sem o uso intensivo de tecnologia, as universidades brasileiras não terão condições de atingir todo o seu leque de formação/capacitação na educação superior. Existe uma expectativa muito grande em torno da EAD principalmente no ensino superior como se pode constatar através dos programas criados pelo Ministério da Educação, através da sua Secretaria de Educação a Distância (SEED/MEC), que vem gerenciando acções de âmbito nacional para a inserção da inovação tecnológica nos processos de ensino e aprendizagem como uma das estratégias para democratizar e elevar o padrão de qualidade da educação brasileira. Estas acções e programas visam promover o desenvolvimento e a incorporação das TIC e das técnicas de educação à distância aos métodos didático-pedagógicos convencionais. Além disso, a SEED a pesquisa e o desenvolvimento, voltados para a construção de novos conceitos e práticas nas instituições públicas brasileiras, desenvolvendo vário programas e projectos. Entretanto, para que isto realmente venha a ser uma das saídas, há necessidade de se construir um modelo consistente, com pilares bem estruturados, no que se refere aos seus aspectos epistemológicos, pedagógicos, organizacionais, tecnológicos e metodológicos. Logo, está se falando de um possível modelo pedagógico, mas qual é o real significado deste termo?
Assim neste artigo, parte-se para uma discussão acerca dos “possíveis” elementos que fazem parte dos modelos pedagógicos emergentes desta modalidade. A partir destes está sendo construído um objecto de aprendizagem para ser utilizado como instrumento norteador da aplicação de modelos pedagógicos na formação de professores para actuar em cursos de educação a distância.
2. Conceito de modelo pedagógico: alicerces para uma conceituação científica
A actividade científica procura compreender, explicar e predizer fenómenos do mundo. Por esse motivo, a ciência busca através de leis, princípios e modelos generalizar e simplificar a realidade. O conceito de modelo surge, portanto, com o viés de estabelecer uma relação por analogia com a realidade. O modelo é um sistema figurativo que reproduz a realidade de forma mais abstracta, quase esquemática e que serve de referência. Do exposto deduz-se rapidamente que modelos são construtos
sociais criados com a finalidade de expor a diferentes situações hipotéticas que ermitam “interpretar a realidade”, visto que a mesma é impreenchível enquanto objecto, pois a realidade é uma construção social (Berger; Buckmann, 1966).
O conceito de modelo é um dos conceitos científicos mais importantes que alicerçam a atividade cientifica permitindo comparar, simular e compreender fenómenos a partir dos seus modelos. Um modelo é uma representação mental compartilhada de um conjunto de relações que definem um fenômeno que visa a melhor compreensão do mesmo.
Na educação o conceito de modelo foi erroneamente considerado sinónimo de teorias de aprendizagem como as desenvolvidas por Piaget, Vygotsky, Wallon, Roger, entre outros ou como metodologia de ensino. Embora um modelo pedagógico possa ser embasado numa ou mais teorias de aprendizagem, de forma geral os modelos são “reinterpretações” de teorias a partir de concepções individuais dos professores que se apropriam parcial ou totalmente de tais construtos teóricos imbuídos num paradigma vigente. Desta forma, o modelo construído muitas vezes recebe o nome de uma teoria (piagetiana, rogeriana, etc.) ou de um paradigma (construtivista, interacionista, etc.) sem
contanto, ter propriamente sua epistemologia embasada nos mesmos paradigmas ou teorias mencionados.
Continua